[DICIONÁRIO AMOROSO] Bosque - Rodrigues, Daniel Maia-Pinto

By Unknown - 09:43

Boa noite, leitores queridos!

O projeto do "Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa" deu uma paradinha porque eu tinha esquecido o livro em outra cidade. Mas agora estamos de volta! Chegou agora e não sabe que projeto é esse? Clique aqui e entenda melhor. Bora para mais um texto sensacional?

Palavra de hoje: Bosque, escrito por Daniel Maia-Pinto Rodrigues



I

De manhã houve quem procurasse na igreja, mas o padre estava no bosque, já e tarde havia ainda quem esperasse pelo padre, ele chegou por volta das três horas, pediu-lhes desculpa pelo atraso, disse-lhes que a missa das cinco, a título excepcional, ia ser na clareira do bosque, referiu-lhes, a caminho da missa, que na quietude do novo altar a urze compreendia melhor o fim da tarde.

II

Avançaram, avançaram sobre a urze e sobre a tarde; véspera distante e tranquila, da existência e da sua sombra gerava-se um fruto, que, amadurecido, era eles ali, caminhando pela tarde, dariam, a quem os visse, a certeza da paz e do apaziguamento, como se ao vê-los a alma se limpasse, e o cansaço das jornadas, o cansaço causado pelas preocupações fosse, afinal, coisas que não existissem, pois quem assim avança sabe que de outros será a reminiscência de um tempo já esquecido.

III

Depois da missa, avançaram mais na luz torrada do fim da tarde, e assim se distanciaram no bosque, irisados véus de névoa ajustavam-lhe os contornos, desfocando-os, como se os feixes de luz fossem a água de uma aguarela -  e eles deslocavam-se, perenizando na pintura sonora do movimento, representavam figuras antigas e desaparecidas formas de coragem e fulgor que de nós há muito se perderam, todos os gestos e todos os passos eram filamentos tremeluzentes do início do tempo; da sua galvanização inicial, distanciaram-se nos bosques e nas charnecas de urze. Afastaram-se do presente, percorriam agora, na sombra, os trilhos interiores da luz.

[...]

Bom, pessoal, esse texto eu admito que levei alguns minutos para realmente compreendê-lo (de alguma maneira, pelo menos, mesmo talvez não sendo a que o autor esperava rs). Ele brinca bastante com o alegórico e com o etéreo. As vírgulas sem fim moldam o texto como se fosse o processo de pensamento dele. Cada pausa, respiração, incerteza, dá para notar pelo modo que as vírgulas - principalmente no II - se acumulam, uma após a outra. E, sem dúvida, as diferenças na escrita são curiosas. Fiquei particularmente presa à "aGuarela". Ela faz total sentido; não falamos áQua, por que então aQuarela? Imagino que seja um reflexo do popular passado para o escrito, mas é tudo uma grande suposição.

O próximo texto é relativamente polêmico, mas eu o adorei. Será passado na íntegra como tem sido os outros ok? Preparem-se, hehe.

Obrigada! Até mais ^^

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